quarta-feira, 14 de agosto de 2013

SÍNTESE DE SUA HISTÓRIA*

Visão panorâmica do morro da Mangueira (01)

      Muito embora a fundação do Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira da Mangueira data de 28/04/1928, o samba no morro que empresta o nome já possuía grande número de adeptos desde a primeira década do século XX. Pelo que se sabe, naquela época já existia o Bloco da Velha Guarda, cujo principal reduto era a residência do cabo ferrador Cândido Tomás da Silva, um dos primeiros residentes do Morro da Mangueira.
     Outros Blocos, mais conhecidos por Cordões, foram surgindo, como o Guerreiros da Montanha, com sede na casa da Tia Chiquinha Portuguesa e o Trunfos da Mangueira, sediado na residência de Leopoldo da Santinha.
     Com a extinção dos Cordões, surgiram os Ranchos, como o Pingo de Amor e Pérola do Egito. O primeiro, fundado pelo guarda-freios da antiga Estrada de Ferro Central do Brasil, Benedito Eleutério e o segundo por Tia Fé (Fé Benedita de Oliveira), residente no Buraco Quente, avó de Darque Dias Moreira, que na década de 70 antecedeu Ed Miranda Rosa na presidência da Mangueira, falecendo logo após ter sido substituído na direção da Escola.
     Com a proliferação dos "terreiros de macumba" no Morro da Mangueira, os Cordões e Ranchos foram desaparecendo. O samba, as batucadas e até mesmo influenciados pelos próprios "terreiros", foram tomando conta do morro e provocando a criação dos Blocos Carnavalescos, como o Bloco da Tia Fé, Bloco da Tia Tomásia e o Bloco do Mestre Candinho.
     Fundado em 1925, o Bloco dos Arengueiros tronou-se o mais famoso. Seu fundador, José Gomes da Costa, mais conhecido por Zé Espinguelli, mas que, por uma boa parte do pessoal do morro, era chamado de Zé Espinguela.
     Embora residindo no Engenho de Dentro, era mais fácil encontrar o Espinguela entre os sambistas no Morro da Mangueira, participando das batucadas do Bloco da Tia Tomásia, cuja disciplina era um tanto rígida para o seu temperamento extrovertido, cheio de arengação. Daí ter assumido o propósito de criar outro Bloco na Mangueira.
     Com a ideia de Espinguella solidarizaram-se os sambistas: Cartola, Carlos Cachaça, Maçu, Saturnino, Arthuzinho, Chico Porrão, Fuíca, Homem Bom e outros arruaceiros como ele.
     Três anos viveu o Bloco dos Arengueiros. Foram três anos de sucesso. Mas batucadas da Praça Onze, nas batalhas de confete, nos festejos da Penha, só dava o Bloco dos Arengueiros.
     Por ser o mais ponderado do grupo Cartola chegou à conclusão de que o Bloco dos Arengueiros estava na hora de adotar outro tipo de atuação em relação ao samba: "talvez eles pudessem mostrar o samba, seus dotes musicais à cidade, ao povo, de uma forma mais civilizada – sem pernadas e sem navalha – mas com todo o potencial rítmico e coreográfico herdado dos nossos ancestrais africanos". Era o fim do Bloco dos Arengueiros.
     E, no dia 28/04/1928, na casa do Seu Euclides da Joana Velha, pai do João Cocada, ali no Buraco Quente (Rua Saião Lobato, 21), Morro da Mangueira, era fundado o Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira da Mangueira.
     O ato de fundação contou com sete componentes do Bloco dos Arengueiros, a saber: Seu Euclides (Euclides Roberto dos Santos); Saturnino Gonçalves; Maçu (Marcelino José Claudino); Cartola (Agenor de Oliveira); Zé Espinelli (José Gomes da Costa); Pedro Paquetá (Pedro Caím) e Abelardo da Bolinha.
     Todos os fundadores da Mangueira já faleceram. Muito se fala sobre a não participação de Carlos Cachaça na fundação da Mangueira. Cartola seu grande amigo explicava: "Carlos Cachaça era atuante componente do Bloco dos Arengueiros, mas naquela época ele quase não parava no Morro. Andava de amores com uma moça lá de Inhaúma, por nome de Maria Aída".
     Apesar de existirem outras versões, segundo Carlos Cachaça, deve-se a cartola a escolha do nome e das cores da Escola, fatos ocorridos no mesmo dia da fundação.
     Estação Primeira da Mangueira, pelo fato de, na época ser a primeira estação de trem, a partir da Central do Brasil, onde havia samba.
     Quanto às cores verde e rosa, Cartola justificava: "as cores verde e rosa eram uma homenagem ao Rancho em que meu pai saía lá em Laranjeiras, o Arrepiados".
     A primeira diretoria da Estação Primeira da Mangueira assim ficou construída: presidente (Saturnino Gonçalves), tesoureiro (Francisco Ribeiro, o Chico Porrão), secretário (Pedro Caím, o Pedro Paquetá), diretor de harmonia (Angenor de Oliveira, o Cartola) e orador oficial (Carlos Cachaça).
     A primeira sede da Escola foi um terreno na Travessa Saião Lobato, nº 07, mudando posteriormente para o nº 23 da mesma rua, no Buraco Quente. Os primeiros ensaios da Mangueira foram realizados na casa do Abelardo, casado com a Bolinha, um dos fundadores.
     Em 1971 a Estação Primeira inaugura a sua nova sede na Rua Visconde de Niterói, um verdadeiro "Palácio do Samba". Na ocasião, o conforto que a nova sede da Escola apresentava chegou a ser comentado como exagerado para uma Escola de Samba, pois até nos sanitários – dois femininos e dois masculinos – foram instalados telefones. Foi a consagração dos presidentes Juvenal Lopes e Djalma dos Santos, em cujas gestões se desenrolaram os empenhos para a concretização do grande sonho mangueirense.
     A Mangueira conquistou 12 títulos de campeã e um supercampeonato, este no Carnaval de 1984, por ocasião da inauguração do novo Estádio dos Desfiles, o Sambódromo, na Rua Marquês de Sapucaí, quando apresentou o tema-enredo "Yes, Nós Temos Braguinha" do carnavalesco Max Lopes.


* Este texto foi extraído do encarte do LP "Dez Anos de Samba-Enredo, GRES Estação Primeira de Mangueira (1974 - 1984)". A modesta síntese da história da Estação Primeira da Mangueira foi elaborada pelo jornalista Waldinar Ranulpho, com o apoio do Departamento Cultural, dirigido por Maria Helena Lopes, em maio de 1984.

(01) - Foto extraída do livro Mangueira, a Nação Verde-e-Rosa, última contracapa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário