domingo, 29 de setembro de 2013

SÉRIE 80 ANOS EM VERDE-E-ROSA - CAPÍTULO 02 (1948/1967): MADEIRA DE DAR EM DOIDO*

 
Nelson Sargento: coleção de sambas antológicos (01)
 
APÓS SÉRIE DE VICES, MANGUEIRA GANHA O RESPEITO DAS RIVAIS
     Mangueira é madeira de dar em doido. A expressão deu inspiração ao samba "Jequitibá", de Zé Ramos, em homenagem à Escola que aguenta o tranco e sempre dá a volta por cima. Depois de uma série de cinco vice-campeonatos e um quarto lugar, a Verde-e-Rosa levantou os títulos do Carnaval de 1949 e 1950. Foi o momento da virada. Depois dos 20 primeiros heroicos anos, a Agremiação ganha corpo e ainda mais respeito das adversárias.
     Em 1948, a Mangueira inovou ao apresentar pela primeira vez o samba-enredo. A letra tratava do mesmo tema escolhido para o desfile: "Vale do São Francisco", de Carlos Cachaça e Cartola.
     Um racha em 1947 resultara em duas associações de Escolas, a União e a Federação. No Carnaval de 1949, a prefeitura decidiu só aceitar inscrições da Federação. Venceu o Império Serrano. A Mangueira, da entidade rival, ficou com o título do outro desfile. Em 1950, a Escola passou à entidade reconhecida pelo governo e foi campeã. A união de todas as Escolas aconteceu em 1952. Em 1954, a Verde-e-Rosa ganhou de novo.
     Nos anos 1950, a Escola trouxe outra inovação. José Bispo Clementino dos Santos, o Jamelão, que começara na Bateria da Agremiação e se tornara intérprete, usou aparelho de som para cantar. Até então era só no gogó. A harmonia se acertava com megafone. "Natal da Portela entrou Escola adentro, esbaforido: 'Que negócio é esse de Jamelão cantar mais alto do que os outros?'", relata Hiram Araújo, do Centro de Memória do Carnaval, para quem o caso ocorreu no início dos anos 1960.
     Em 1960, a Mangueira venceu com mais quatro Escolas. Embora tenha ficado em primeiro, perdeu 15 pontos por atraso (o que até então não resultava em penalidade). O título chegou a ser dado ao Salgueiro. Mas os mangueirenses reclamaram e dividiram o caneco.
EMOÇÃO COM MONTEIRO LOBATO
     Após o título de 1961, a Mangueira protestaria muito contra a derrota em 1962. Depois de brilhante apresentação com o enredo ‘Casa grande e senzala’, com samba de Zagaia, Leléo e Comprido, a Escola, que se apresentara com o recorde de três mil componentes, deixou a Avenida sob gritos de "é campeã". Mas ficou apenas com o 4º lugar. Muitos passaram a apontá-la como cafona e de não ter a mesma beleza das rivais, que já contavam com cenógrafos e figurinistas. Houve suspeitas de que uma jurada dera notas baixas à Escola por não gostar da combinação verde e rosa.
     Cinco anos depois, a Verde-e-Rosa voltou a pôr a mão na taça. Com "O mundo encantado de Monteiro Lobato", um samba de Darci, Luiz, Batista, Hélio Turco e Jurandir, o desfile na Av. Presidente Vargas comoveu o público. Mostrou a obra do escritor sem lançar mão do óbvio, como exibir nomes de livros e personagens.
UMA PASSISTA INIGUALÁVEL
     Nininha Xoxoba era sensação na Verde-e-Rosa. Nas apresentações, conseguia a proeza de mexer alternadamente lados das nádegas. "Ela parava um lado e mexia o outro. Igual não havia", conta Arlete Silva, a Tia Suluca, 80 anos, ao falar da amiga Sebastiana de Almeida.
     E despontavam outras atrações, como Clementina de Jesus, que foi para o morro nos anos 1940, e os compositores Nelson Cavaquinho e Nelson Sargento. A Bateria já era marcante. Lúcio Pato, China e Zé Crioulinho ajudaram a formar o coração da Escola. "Já não havia batida de resposta. Os meninos aprenderam ao escutar as paradas nos quartéis daqui", explica Guerra Peixe, do Centro de Memória.
 


* Texto de Élcio Braga e Raphael Azevedo publicado no jornal O Dia, em 21/04/2008, p.03.
(01) - Foto publicada no jornal O Dia, em 21/04/2008, p.03.

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