Nelson
Sargento: coleção de sambas antológicos (01)
APÓS
SÉRIE DE VICES, MANGUEIRA GANHA O RESPEITO DAS RIVAIS
Mangueira é madeira de dar em doido. A
expressão deu inspiração ao samba "Jequitibá", de Zé Ramos, em
homenagem à Escola que aguenta o tranco e sempre dá a volta por cima. Depois de
uma série de cinco vice-campeonatos e um quarto lugar, a Verde-e-Rosa levantou
os títulos do Carnaval de 1949 e 1950. Foi o momento da virada. Depois dos 20
primeiros heroicos anos, a Agremiação ganha corpo e ainda mais respeito das
adversárias.
Em 1948, a Mangueira inovou ao apresentar
pela primeira vez o samba-enredo. A letra tratava do mesmo tema escolhido para
o desfile: "Vale do São Francisco", de Carlos Cachaça e Cartola.
Um racha em 1947 resultara em duas
associações de Escolas, a União e a Federação. No Carnaval de 1949, a
prefeitura decidiu só aceitar inscrições da Federação. Venceu o Império
Serrano. A Mangueira, da entidade rival, ficou com o título do outro desfile.
Em 1950, a Escola passou à entidade reconhecida pelo governo e foi campeã. A
união de todas as Escolas aconteceu em 1952. Em 1954, a Verde-e-Rosa ganhou de
novo.
Nos anos 1950, a Escola trouxe outra
inovação. José Bispo Clementino dos Santos, o Jamelão, que começara na Bateria
da Agremiação e se tornara intérprete, usou aparelho de som para cantar. Até
então era só no gogó. A harmonia se acertava com megafone. "Natal da
Portela entrou Escola adentro, esbaforido: 'Que negócio é esse de Jamelão
cantar mais alto do que os outros?'", relata Hiram Araújo, do Centro de
Memória do Carnaval, para quem o caso ocorreu no início dos anos 1960.
Em 1960, a Mangueira venceu com mais
quatro Escolas. Embora tenha ficado em primeiro, perdeu 15 pontos por atraso (o
que até então não resultava em penalidade). O título chegou a ser dado ao
Salgueiro. Mas os mangueirenses reclamaram e dividiram o caneco.
EMOÇÃO
COM MONTEIRO LOBATO
Após o título de 1961, a Mangueira
protestaria muito contra a derrota em 1962. Depois de brilhante apresentação
com o enredo ‘Casa grande e senzala’, com samba de Zagaia, Leléo e Comprido, a Escola,
que se apresentara com o recorde de três mil componentes, deixou a Avenida sob
gritos de "é campeã". Mas ficou apenas com o 4º lugar. Muitos
passaram a apontá-la como cafona e de não ter a mesma beleza das rivais, que já
contavam com cenógrafos e figurinistas. Houve suspeitas de que uma jurada dera
notas baixas à Escola por não gostar da combinação verde e rosa.
Cinco anos depois, a Verde-e-Rosa voltou a
pôr a mão na taça. Com "O mundo encantado de Monteiro Lobato", um
samba de Darci, Luiz, Batista, Hélio Turco e Jurandir, o desfile na Av.
Presidente Vargas comoveu o público. Mostrou a obra do escritor sem lançar mão
do óbvio, como exibir nomes de livros e personagens.
UMA
PASSISTA INIGUALÁVEL
Nininha Xoxoba era sensação na
Verde-e-Rosa. Nas apresentações, conseguia a proeza de mexer alternadamente
lados das nádegas. "Ela parava um lado e mexia o outro. Igual não havia",
conta Arlete Silva, a Tia Suluca, 80 anos, ao falar da amiga Sebastiana de
Almeida.
E despontavam
outras atrações, como Clementina de Jesus, que foi para o morro nos anos 1940,
e os compositores Nelson Cavaquinho e Nelson Sargento. A Bateria já era
marcante. Lúcio Pato, China e Zé Crioulinho ajudaram a formar o coração da Escola.
"Já não havia batida de resposta. Os meninos aprenderam ao escutar as
paradas nos quartéis daqui", explica Guerra Peixe, do Centro de Memória.
* Texto de Élcio Braga e Raphael Azevedo publicado no jornal O Dia, em 21/04/2008, p.03.
(01) - Foto
publicada no jornal O Dia, em 21/04/2008, p.03.
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